Diário de uma professora

Decidi a partir de hoje falar um pouco da minha experiência profissional, não sei se o tempo vai me dar espaço para contar tudo que tenho para dizer dos meus quinze anos como professora, mas vou tentar escrever um pouquinho e compartilhar com novos e veteranos aventureiros desta profissão.

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Foto: Durante dois anos dormi em cima de uma mesa escolar.Não é termo figurado não.É verdade.Em 2000 vendi tudo que eu tinha (uma cama de solteiro, um guarda roupa velho, um conjunto de cadeiras e um fogão) e montei em minha casa minha primeira escola, o Educandário Aladdin, eu tinha 20 anos.Todas as nossas economias foram colocadas neste empreendimento,todos os comodos da casa viram salas de aula, uma diretoria e uma cantina que veio um ano depois. Todas as nossas roupas (minha, meu esposo e de minha enteada) foram colocadas dentro de um fichário.comprei um fogão de duas bocas, compramos duas redes e eu passei a dormi na mesa da sala do infantil 1 por falta de espaço. Não tinha colchas ou colchões pq não tinha onde guardar. Tudo tinha que estar pronto as seis horas e ninguém percebia que agente dormia dentro da escola. Almoçavamos nas carreiras pra que as treze horas estivesse tudo em ordem. As dezessete horas eu ia pra Universidade Federal do Piauí e só retornava as onze horas muitas vezes sem jantar, lia ou dormia no onibus (quarenta e cinco minutos de rodoviaria circular quem não dorme). Foi no Aladdin que eu aprendi a fazer as belas tarefinahs de casa no stecil com a tia Francisca e a tia Francisca Salva Salva(Salviana) que conhece bem esta história. Foi lá que eu comecei tudo que sou hoje. Quantas noites eu passei em claro rodando as tarefinhas no mimeografo.Quantos caderninhos eu fiz a mão. Quantas capas pintamos uma a uma de giz de cera (Haviam mães que colecionavam as capinhas de provas de tão lindas que ficavam). Tudo que comprei foi fiado. Cadeiras, mesas, tudo.Paguei tudo. Em três anos nos tornamos a melhor escola do Bairro. Nosso ensino era referência de qualidade. Aluguei duas casas próximos a minha, as vinte crianças que começaram chegaram em 2003 a superar o nosso espaço. Infelizmente meu sonho acabou quando eu sofri um acidente, quebrei parte da face e fiquei meses em recuperação. A escola entrou em crise, os alunos sairam e eu fali. Mas agradeço a cada dia que passei no Aladdin, a todas as professoras que estiveram comigo, cada uma que me ensinou e que aprendeu comigo. A  todos os pais que depois de 10 anos ainda são meus amigos. meus pequerruchos que são moças e rapazes e ainda me chamam de tia.Os meus alunos que morreram no trafico, as que engravidaram cedo, as que foram embora deixaram saudades. Mas foi no Aladdin, dia e noite trabalhando que aprendi que havia em mim algo que não era normal.Não desisti.Estudei dia e noite e passei em um concurso público ainda em 2003.Montei minha segunda escola em 2007...mas está é uma outra história.(Mesa da foto é igualzinha a que eu dormia só que a minha era pintadinha de verde) Por Jossandra Barbosa.
Durante dois anos dormi em cima de uma mesa escolar.Não é termo figurado não.É verdade.Em 2000 vendi tudo que eu tinha (uma cama de solteiro, um guarda roupa velho, um conjunto de cadeiras e um fogão) e montei em minha casa minha primeira escola, o Educandário Aladdin, eu tinha 20 anos.Todas as nossas economias foram colocadas neste empreendimento,todos os comodos da casa viram salas de aula, uma diretoria e uma cantina que veio um ano depois. Todas as nossas roupas (minha, meu esposo e de minha enteada) foram colocadas dentro de um fichário.comprei um fogão de duas bocas, compramos duas redes e eu passei a dormi na mesa da sala do infantil 1 por falta de espaço. Não tinha colchas ou colchões pq não tinha onde guardar. Tudo tinha que estar pronto as seis horas e ninguém percebia que agente dormia dentro da escola. Almoçavamos nas carreiras pra que as treze horas estivesse tudo em ordem. As dezessete horas eu ia pra Universidade Federal do Piauí e só retornava as onze horas muitas vezes sem jantar, lia ou dormia no onibus (quarenta e cinco minutos de rodoviaria circular quem não dorme). Foi no Aladdin que eu aprendi a fazer as belas tarefinahs de casa no stecil com a tia Francisca e a tia Francisca Salva Salva(Salviana) que conhece bem esta história. Foi lá que eu comecei tudo que sou hoje. Quantas noites eu passei em claro rodando as tarefinhas no mimeografo.Quantos caderninhos eu fiz a mão. Quantas capas pintamos uma a uma de giz de cera (Haviam mães que colecionavam as capinhas de provas de tão lindas que ficavam). Tudo que comprei foi fiado. Cadeiras, mesas, tudo.Paguei tudo. Em três anos nos tornamos a melhor escola do Bairro. Nosso ensino era referência de qualidade. Aluguei duas casas próximos a minha, as vinte crianças que começaram chegaram em 2003 a superar o nosso espaço. Infelizmente meu sonho acabou quando eu sofri um acidente, quebrei parte da face e fiquei meses em recuperação. A escola entrou em crise, os alunos sairam e eu fali. Mas agradeço a cada dia que passei no Aladdin, a todas as professoras que estiveram comigo, cada uma que me ensinou e que aprendeu comigo. A todos os pais que depois de 10 anos ainda são meus amigos. meus pequerruchos que são moças e rapazes e ainda me chamam de tia.Os meus alunos que morreram no trafico, as que engravidaram cedo, as que foram embora deixaram saudades. Mas foi no Aladdin, dia e noite trabalhando que aprendi que havia em mim algo que não era normal.Não desisti.Estudei dia e noite e passei em um concurso público ainda em 2003.Montei minha segunda escola em 2007...mas está é uma outra história.(Mesa da foto é igualzinha a que eu dormia só que a minha era pintadinha de verde) Por Jossandra Barbosa.

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Estou gritando ao vento....
Depois da 3ª aula hoje no sétimo ano ouvi uma aluna dizer "eita professora chata!" Perguntei: Sou chata por que quero que você me der atenção ao que estou tentando explicar? Sou chata por que vc está atrapalhando a aula conversando o tempo todo e eu estou aqui a frente gritando para ser ouvida?Sou chata por que desde da hora que entrei na aula quero sua atenção? E assim somos considerados por nossos alunos quando nos preocupamos com eles.Chatos!!!! Fiquei alguns instantes olhando quase quarenta alunos todos conversando, vc tem que dar aula teórica, o sistema te cobra isto, vc tem 200 dias letivos não tem como usar recursos todos os dias, é uma sala de vídeo pra escola inteira, um livro de 300 páginas, 15 capítulos cada um subdividido em quatro subcapítulos, oito avaliações para cumprir e as vezes me pego olhando pros meus alunos e pensando: Estou gritando ao vento....
Muitos se fala sobre a educação no Brasil, se teorizam, publicam livros, fazemos formação continuada e pagamos taxas exorbitantes para participar de congressos para tentar ouvir algo novo que nos dê esperança.Mas quem convive a realidade da sala de aula, principalmente no setor público de nosso país é quem realmente tem condições de falar sobre a Educação Brasileira. Salas super lotadas, alunos que não querem estar ali, não entendem o que os professores querem lhe passar, não te respeitam e nem respeitam uns aos outros, não se dedicam e muito menos se esforçam para fazer daqueles 50 minutos de aula valer a pena.Ano passado em Teresina-Pi a carga horária dos professores de 6º ao 9º ano foi acrescentado mais turmas, ouvimos que o professor deve ter cinco turmas em cada turno e que o horário de descanso do recreio não conta para a secretaria como carga horária do professor na escola. Absurdo é... Nada foi feito, temos cinco turmas, turmas com 42 alunos, salas com ventiladores que não funcionam, telhados quebrados, quadros que não conseguimos apagar, alunos que comem a merenda escolar sentados no chão, professores estressados e cansados de uma sociedade que cobra resultados mas que pouco participa. As vezes paro e vejo minhas alunas com 11 anos que não querem estudar e passam a aula toda falando sobre namoro, metade da sala dançando lek lek eu como professora muitas vezes tenho crises de rinite e não paro de tossir depois da segunda aula nas salas sem condições, mas que não tem nem esperança de serem reformadas e tenho que continuar dando aula, vejo alunos voltarem da diretoria depois de dois horários e voltam rindo e bagunçando do mesmo jeito e continuam atrapallhando a aula. Leio, escuto as pessoas mas sempre fico pensando que geração é esta que está sendo formada?Que futuro é este que está sendo construindo? Pais que não educa, professores que a cada dia lutam pra não ser professores, crianças e jovens que vão a escola por são obrigados ou por causa de um beneficio, midia que só prega violência em todos telejornais (será que não acontece nada que preste neste país) porque só passa trafico, assalto e assassinato em todos os tele jornais? Vemos propaganda tão linda do governo, de gente sorrindo, de escolas tão limpas e lindas que dá uma revolta. Todos os dias um professor desiste de sua profissão em algum lugar do país. È algo que cresce a cada dia.Não vai parar. Não adianta teorias, livros e congressos se a sociedade não entender que caminhamos para um futuro de violência, desrespeito e intolerância e que a educação e o resgate dos valores familiares são os únicos caminhos para a salvação da humanidade pois caminhamos para futuro incerto e tenebroso.Continuaremos perdendo professores, muitos ficando doentes, outros desiludidos com a profissão e roda da sociedade continua girando vamos ver onde chegará.(Jossandra Barbosa)

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